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Eficiência energética no cultivo e processamento da canábis medicinal

Postado FEVEREIRO 2023  -  CANÁBIS MEDICINAL

 
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O cultivo e processamento da canábis para uso medicinal precisa de grandes quantidades de energia devido aos requisitos de estabilidade ambiental durante o seu crescimento e transformação para assegurar a regularidade da composição dos diferentes canabinoides. Assim, o produto final pode ser considerado como um fármaco com propriedades específicas.

O custo energético da produção da canábis medicinal torna-se, na maioria dos casos, o custo mais importante e o que determinará se a exploração industrial é ou não rentável.

Uma conceção eficiente da instalação aumentará a rentabilidade direta da exploração e reduzirá a pegada de carbono, proporcionando valor acrescentado para estes produtos de origem vegetal.

 

CONTEXTO

A maioria das ações que nos permitem otimizar o controlo e a estabilidade das condições ambientais, bem como a eficiência energética, exigem um investimento inicial mais elevado. Como este investimento é decidido e feito muito antes mesmo de a licença ser emitida, complica o processo de tomada de decisão por um custo cujo retorno é repartido por vários anos.

Por um lado, temos o cenário do elevado custo da energia, que nos leva a conceber com base na eficiência e na poupança, e, por outro lado, a incerteza sobre o mercado da canábis medicinal (volumes, preços, etc.) e a sua dificuldade como produto e processo, o que nos leva a ser prudentes.

Não é possível falar de uma solução “standard” ótima de conceção da instalação, uma vez que esta depende de muitos fatores, e deve ser desenvolvida numa base "personalizada":

  • Localização: condições ambientais de temperatura, humidade e horas de luz.
  • Tamanho da exploração, tamanho do lote e possíveis alargamentos.
  • Produto final destinado ao consumo direto ou à extração.

Por todas as razões acima referidas, neste artigo pretendemos identificar os diferentes pontos que precisam de ser analisados a fim de implementar soluções técnicas na instalação que resultem numa melhoria da eficiência energética. O resultado da análise deve ser aplicado no cálculo da rentabilidade de cada caso individual, tendo em conta as possíveis opções de melhoria propostas.

 

EFICIÊNCIA APLICADA AO CULTIVO

As condições de cultivo devem ser ótimas, e se há algo com o qual este setor está de acordo, é que qualquer melhoria na estabilidade e segurança das condições ambientais do cultivo resultará num melhor rendimento e qualidade do produto e, portanto, num aumento da rentabilidade.

Localização

É uma das condições mais importantes, uma vez que tem um grande impacto económico. Devemos procurar uma boa parcela, numa zona com um clima adequado às necessidades do cultivo, e horas de luz suficientes. Além disso, precisamos de assegurar o acesso à água de qualidade e contar com rede elétrica, o que tem um grande impacto na conceção, investimento e custos de exploração.

Iluminação

A iluminação do cultivo pode ser assegurada por meio da luz solar, luz artificial ou uma combinação de ambas.

A luz solar permite-nos poupar no consumo de energia, mas para podermos utilizá-la, temos de prestar atenção ao tipo de recinto.

Os recintos com revestimento tipo película proporcionam a maior transmissão de luz solar mas, ao mesmo tempo, são menos herméticos e isolantes para zonas frias ou noites, pelo que será necessário instalar telas de blackout para ajudar a melhorar o isolamento térmico.

Outros acabamentos como o policarbonato ou vidro melhoram o isolamento térmico, reduzem a transmissão solar, mas aumentam o investimento.

Em localizações próximas do equador, teremos as melhores condições de luz natural durante todo o ano, mas à medida que nos afastamos do equador, se quisermos ter estabilidade no fluxo luminoso, teremos de instalar luzes de apoio, ou mesmo luzes que possam garantir a contribuição total necessária. Nestes casos, as luzes a serem instaladas devem ser do tipo LED e reguláveis para garantir que apenas fornecemos a luz necessária para complementar a luz solar e conter o consumo de energia.

Nas instalações de recintos opacos (painel sandwich), a iluminação é fornecida de forma completamente artificial, e será constante independentemente da época do ano. Para controlar o consumo e reduzir o custo, se estivermos conetados à rede elétrica, uma medida interessante consiste em ligar as luzes durante a noite. Caso não haja rede elétrica disponível, devemos instalar painéis fotovoltaicos e baterias para armazenar energia que nos permitam ligar as luzes durante o dia e prolongar o fotoperíodo até 12 horas, ou mais, para o crescimento vegetativo e plantas-mãe.

Isolamento exterior

Devido à necessidade de regular e controlar a temperatura e humidade do cultivo, o isolamento ótimo permite-nos reduzir o consumo de energia.

O isolamento de tetos e paredes pode ter como contrapartida a diminuição da transmissão da luz solar e, portanto, um aumento do consumo para assegurar a iluminação, pelo que será necessário estudar cada caso individual para encontrar o equi- líbrio.

O isolamento do piso, exceto nas zonas de clima excelente, será sempre um bom investimento. Uma laje de betão, colocada sobre uma camada de isolamento e barreira de vapor (para assegurar a durabilidade e qualidade dos acabamentos), assegura o isolamento e a inércia térmica para noites frias, e é precisamente na parte inferior da planta (raízes) que queremos assegurar uma temperatura ligeiramente mais elevada.

Condições ambientais (interiores)

A capacidade de manter cons- tantes as condições de temperatura e humidade de dia, de noite e durante todo o ano, é outro dos fatores de consumo de energia. Algumas localizações e soluções técnicas poderiam ser descartadas durante o estudo do projeto devido à elevada humidade ou condições térmicas.

O principal problema é combater a humidade gerada pelas plantas. Durante a fase diurna, a planta transpira praticamente toda a sua água captada pelas raízes. A forma mais económica de reduzir esta humidade interior renovar o ar da estu- fa com um ar exterior mais seco. Dependendo da sua secura, pode até haver espaço para o arrefecimento adiabático, e esta é certamente a forma mais eficiente.

Em qualquer caso, como as condições ambientais exteriores não podem ser asseguradas, devemos considerar a necessidade de instalações de desumidificação e arrefecimento para combater a humidade gerada pelas plantas, bem como a carga térmica interna (luzes) e exterior. A eficiência dependerá da existência de um bom sistema de controlo a fim de poder reduzir os custos de exploração quando as condições externas são favoráveis.

À noite, em zonas frias, é im- portante:

  • Reduzir ao mínimo as renovações de ar (apenas para assegurar o fornecimento de oxigénio necessário).
  • Aumentar o isolamento térmico, com telas de blackout, cortinas com câmara de ar, etc.
  • Aquecer as zonas próximas das raízes, mesmo que as áreas altas da estufa arrefeçam.

DióxiDo De carbono CO2

A fim de aumentar o rendimento do cultivo, é prática comum aumentar a concentração de CO2 acima da ambiental durante o dia, mas esta prática tem um custo e uma pegada de carbono que precisa de ser analisada para assegurar uma boa rentabilidade.

Trabalhar com taxas mais elevadas de CO2 implica a necessidade de manter o equilíbrio perfeito com o fornecimento de nutrientes e a quantidade de luz, caso contrário, não será obtido o rendimento pretendido, mas sofreremos de um aumento dos custos e até de uma qualidade inferior do produto final.

Aumentar a taxa de CO2 enquanto temos elevadas entradas de ar fresco é pouco rentável, pelo que só é recomendado para instalações interiores ou estufas herméticas.

Em grandes explorações, onde existe um processo de combustão para gerar energia ou água quente, os gases de combustão poderiam ser utilizados para aumentar a concentração de dióxido de carbono por meio de um sistema de filtragem, armazenamento e arrefeci- mento.

Uma laje de betão, colocada sobre uma camada de isolamento e barreira de vapor (para assegurar a durabilidade e qualidade dos acabamentos), assegura o isolamento e a inércia térmica para noites frias.

 

EFICIÊNCIA NA GERAÇÃO DE FRIO E CALOR

Os processos de climatização, desumidificação e secagem implicam a necessidade de instalar equipamentos de geração de frio e calor. A nossa proposta é de optar por sistemas de produção centralizados porque, embora o investimento económico seja mais elevado, estes oferecem-nos as seguintes vantagens:

  • Como se tratam de equipamentos de grandes dimensões, têm maior controlo (de condensação, inversores, etc.), melhores compressores e, portanto, maior eficiência energética.
  • Podem produzir frio e calor ao mesmo tempo, aumentando a eficiência uma vez que normalmente entre a área do processo e de cultivo, há uma necessidade simultânea de calor e frio.
  • A quantidade de gases refrigerantes será menor, a manutenção será mais controlada, são máquinas industriais concebidas para um funcionamento contínuo.

Para a distribuição de frio e calor é aconselhada a utilização de circuitos de água quente e fria. Neste tipo de instalações, a utilização de circuitos de distribuição de fluxo variável é altamente recomendada devido às grandes diferenças nas necessidades de frio e calor entre o dia e a noite, ou entre as diferentes estações do ano.

Qualquer processo de geração que aproveite a energia solar, cogeração, arrefecimento adiabático ou evaporativo, biogases, etc., será aplicável e bem-vindo.

A qualidade e quantidade de água acessível é um dos fatores decisivos para a escolha da localização, mas nem sempre será o fator mais determinante.

 

EFICIÊNCIA NAS SALAS DE PROCESSAMENTO GMP

A eficiência nestas salas é assegurada por soluções standard nos sistemas de climatização, aqui daremos algumas orientações para as aplicar às particularidades do processamento da canábis.

Zoneamento de climatizadores

É importante diferenciar as diferentes zonas de acordo com as suas necessidades ambientais e de programação do trabalho.

Um ambiente com humidade controlada só é necessário em salas onde o produto já esteja seco, e exposto ao ambiente (corte a seco, curado e embalado).

Em áreas onde o material está na forma húmida (desfolhamento, corte em verde), a temperatura será mais baixa, pelo que é uma opção interessante que o climatizador que serve estas áreas seja inde- pendente.

Dentro da mesma instalação, verificamos que a maioria das salas funcionará em um ou dois turnos e até que a exploração esteja em plena capacidade durante muitos dias, algumas salas estarão desocupadas enquanto outras, tais como os túneis de secagem, funcionarão 24/24 h, pelo que é importante que os climatizadores possam ser divididos em setores, desligados ou feitos para funcionar a temperaturas e débitos reduzidos.

O mesmo se aplica às extrações localizadas (de pó, vapores, etc.), resultando muito interessante que possam ser ligadas e desligadas independentemente, uma vez que o número de horas de utilização é relativamente baixo.

Filtração do ar

Adaptar o nível de filtração (F9... H14) às renovações de modo a ter a qualidade  ISO 8 de nível de partículas. Um excesso de especificação da conceção tem custos de exploração elevados.

 

EFICIÊNCIA NA GESTÃO DA AGUA

A água é um recurso que precisa de ser bem gerido. Água de boa qualidade (baixa condutividade) pode ser utilizada com um pré-tratamento simples, enquanto que água de má qualidade exigirá um tratamen- to de osmose inversa, com custos de exploração, consumo por rejeição de água e investimento associados.

A qualidade e quantidade da água disponível é um dos fatores decisivos para a escolha da localização, mas nem sempre será o mais determinante, por isso aqui estão alguns itens a ter em conta:

  • O sistema de irrigação será normalmente hidropónico, de preferência com drenagem controlada e canalizada para possível reutilização noutros tipos de cultivo menos sensíveis a alta condutividade, ajardinamentos, etc.
  • Aproveitar a água da chuva e a condensada nos sistemas de desumidificação mediante a sua recondução para os reservatórios de água de irrigação de segurança.  Estes reservatórios de segurança estão presentes em todas as instalações e o investimento para a recondução é pequeno, mas proporciona-nos um bom abaste- cimento de água de excelente qualidade.
  • Utilizar água rejeitada na osmose para limpezas não GMP, cisternas WC, etc.

 

CONCLUSÕES

As soluções técnicas de eficiência energéticas são existentes e conhecidas. Talvez a dificuldade relativa à canábis medicinal esteja na avaliação, devido à falta de dados, de como recuperar em termos de quantidade e qualidade do produto, utilização de um ambiente mais controlado e preciso (maior gasto de energia), em comparação com um com margens mais amplas.

Com base na nossa experiência, acreditamos que se deve começar com uma conceção robusta para assegurar a qualidade e, uma vez iniciada a atividade de forma estável, monitorizar e testar para nos permitir recolher dados para melhorar a eficiência através de ampliações ou investimentos futuros.

Esta monitorização e análise contínuas devem ser planeadas e realizadas por pessoal especializado e centrado em conseguir alcançar estes objetivos de eficiência energética e rentabilidade.

 

AUTOR:  
Eudald Bogatell
Engenheiro de projetos em VALTRIA 

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